Ainda não se sabe o que causou mortandade de vários espécimes neste fim de semana.
Por Fred Carvalho
Vlademir Alexandre
Toneladas de peixes e crustáceos morreram neste fim de semana no rio Potengi, naquele que pode ser um dos maiores desastres ambientais da história do Rio Grande do Norte. A causa da mortandade ainda é desconhecida, mas acredita-se estar relacionada ao despejo ininterrupto - muitas vezes clandestino - de dejetos no leito do rio.Os primeiros espécimes mortos começaram a surgir na sexta-feira (27), mas neste domingo (29) toneladas de peixes, camarões e caranguejos apareceram boiando nas águas do rio Potengi.A bióloga Rose Dantas, que faz um trabalho permanente de monitoramento do Potengi, foi uma das primeiras a chegar ao rio neste domingo. "Eu sabia que isso iria acontecer. Venho alertando órgãos públicos sobre esse despejo indiscriminado de dejetos há anos, mas ninguém nunca valorizou minhas denúncias. Agora estamos diante de uma tragédia ecológica e social", falou. A bióloga chegou a chorar quando viu a quantidade de animais mortos.
Vlademir Alexandre
O desastre atinge diretamente centenas de famílias que tiram seu sustento do rio Potengi. O pescador Francisco Alves de Vera, de 60 anos, disse que não sabe como vai "ganhar dinheiro daqui para frente". "Minha vida toda sobrevivi graças ao que tiro todos os dias desse rio. Agora, com esses peixes mortos e com a água poluída, não sei como vou pôr comida na mesa para os meus filhos", lamentou.O também pescador Luiz Gonzaga dos Santos, de 49 anos, falou que o pescado tirado do rio Potengi é vendido, em sua grande maioria, nas feiras de Natal e de municípios vizinhos. "Ou seja, vai faltar peixe no mercado. Para piorar, vamos passar muito tempo sem poder pescar. E quando pudermos, quem vai querer comprar nosso peixe, que vem de uma água poluída?", indagou. Os espécies encontradas no rio Potengi são bagre, baiacu, agulhão, tainha, arraia, além de camarão, ostra, siri, caranguejo e sururu.A bióloga Rose Dantas disse acreditar que uma das prováveis causas do desastre ambiental é o despejo de esgotamento sanitário sem tratamento no rio, principalmente no trecho entre os municípios de Natal, São Gonçalo do Amarante e Macaíba. "Nesse setor, só uma empresa imunizadora tem licença para despejar dejetos, mas não tenho certeza se isso é feito da forma correta, com tratamento do material que vai ser lançado nas águas. O restante é jogado de forma clandestina, sem o menor cuidado ou preocupação com o rio", denunciou.
Vlademir Alexandre
Dois fiscais do Ibama estiveram neste domingo no rio Potengi. O técnico ambiental Pedro Luiz disse que amostras da água e de peixes mortos serão recolhidos para análise. "Iniciamos aqui um longo caminho para descobrir o que causou a morte desses animais e quem é responsável por isso. Caso se comprove que houve crime ambiental, o culpado será multado e pode até ser preso", frisou.O manguezal que beira o rio Potengi está inserido em uma área de Proteção Permanente (APP) estabelecida pelo Governo Federal. Mas as licenças concedidas para o lançamento de dejetos, explicou Rose Dantas, são expedidas pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema). "Precisamos averiguar agora se essas licenças estão dentro do padrão exigido pela lei e se o material despejado no rio corresponde ao que foi licenciado".Há possibilidade de um inquérito policial ser instaurado na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (Deprema). Procurada pelo Nominuto.com, a promotora pública de Defesa do Meio Ambiente, Gilka da Mata, disse que vai acompanhar as investigações. "Nosso objetivo a partir de agora é saber o que realmente houve e punir os responsáveis".
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