terça-feira, 8 de julho de 2008

Geleiras derretem na patagonia

Mesmo quem nunca tinha percebido nada, agora está preocupado. As previsões sobre aquecimento global são assustadoras. A cada dia surgem novos sinais de que a vida na Terra está em risco e foi atrás dessas evidências que os repórteres Alan Severiano e Rogério Rocha embarcaram para a Argentina.
As curvas da estrada conduzem aos contrastes da Patagônia. No extremo sul das Américas, a natureza esbanja diversidade.
A estepe seca, pontilhada por pequenos arbustos, margeia um lago de cores intensas que lembra o Mar do Caribe. A paisagem emoldurada pela Cordilheira dos Andes abriga algumas das geleiras mais bonitas do mundo. É também uma das regiões mais ameaçadas pelas mudanças climáticas.
A temperatura vai de -5ºC no inverno a 18ºC no verão. Os ventos chegam a 120 km/h e são eles, explica a guia, os responsáveis pelo clima tão variado.
A menos de cinco quilômetros do deserto, fica a geleira mais famosa: o Perito Moreno. São 30 quilômetros de extensão de gelo, esculpido em formas pontiagudas de até 60 metros de altura. É apenas um dos 47 glaciares do campo de gelo patagônico, uma gigantesca área branca, que se estende sobre a cordilheira, entre o Chile e a Argentina.
A neve vai se acumulando, ficando mais compacta, e vira gelo em sete, oito anos. Com as nevascas, o gelo vai sendo empurrado para baixo, até se desprender no lago. Nos últimos anos, o Perito Moreno se mantém estável: perde e ganha a mesma quantidade de gelo.
O Perito Moreno é uma exceção. A maioria das geleiras de montanha do mundo está diminuindo. No campo de gelo patagônico, a situação é ainda mais grave. Em nove de cada dez geleiras, a quantidade de gelo que derrete é maior do que a de neve que se acumula no alto das montanhas. Nos últimos 40 anos, os Andes perderam 25% da área de gelo.
O calor cria riachos no topo dos glaciares. A água escorre por fendas azuladas. As partes que se desprendem viram icebergs. Upsala é o melhor retrato do derretimento.
Da década de 1960 para cá, a geleira, que é uma das maiores do Parque Nacional Argentino, recuou cinco quilômetros. Hoje, a parede de rocha que ficava debaixo do gelo está exposta.
O guia do parque diz que onde navegamos agora havia gelo. Ano a ano, se nota um retrocesso de 100, 150 metros. É efeito das mudanças no clima mundial, afirma.
Para o capitão do barco, antes, os invernos na região eram muito mais frios, mais prolongados. Já os verões ficaram mais quentes, diz ele.
As geleiras da Patagônia estão lá há pelo menos 3 milhões de anos. Nesse período, elas aumentaram de tamanho nas eras do gelo e encolheram nos períodos interglaciais, como acontece agora. O que chama a atenção dos cientistas é a velocidade com que a massa de gelo vem diminuindo nos últimos anos.
E não é um fenômeno isolado. Na América do Norte, na Europa e na Ásia, as geleiras de montanha estão se retraindo. Os cientistas prevêem que em dez anos não vai mais existir neve no Monte Kilimanjaro, na África.
O glaciólogo da UFRGS Jefferson Simões, um dos poucos brasileiros especialistas em gelo, prevê conseqüências graves na América do Sul: além de aumentar o nível do mar, o gelo derretido pode comprometer o abastecimento de água de várias cidades. Os bolivianos seriam os mais prejudicados.
“Ao redor de La Paz, temos várias geleiras que são grande armazenador de água e vão aos pouquinhos liberando essa água. O que vai acontecer nos primeiros anos é que vai sobrar um pouco de água para La Paz, mas finalmente eles vão perder esse recurso. É uma conseqüência nefasta das mudanças climáticas, que infelizmente é exatamente a população mais pobre que sofre as conseqüências”, afirma glaciólogo da UFRGS Jefferson Simões.
Na Antártida, uma plataforma sete vezes o tamanho da cidade de São Paulo se desprendeu em 2002. No extremo oposto, o Ártico, onde o gelo flutua sobre o mar, o derretimento contribui para o aumento da temperatura global.
A massa branca, que rebate parte dos raios solares, perde espaço para o oceano escuro, que absorve mais calor.
São mudanças que os cientistas tentam explicar perfurando o próprio gelo. Eles estudam bolhas de ar formadas há milhares de anos e depositadas três mil metros abaixo da superfície gelada.
“Os cientistas hoje já furaram mais de 3,6 mil metros de gelo na Antártica e com isso conseguiram tirar bolhas na atmosfera de até 800 mil anos atrás. O fato mais relevante é que nunca, nesses 800 mil anos, as concentrações dos gases estufa, principalmente do CO2, gás carbônico, e de CH4, o metano, foi tão alto como no século 20”, alerta o glaciólogo da UFRGS Jefferson Simões.
Gases como o metano e o gás carbônico sempre estiveram presentes na atmosfera, a camada que recobre o nosso planeta, em quantidades muito pequenas. Eles permitem a entrada de luz solar e impedem a saída de parte da radiação que é refletida pela Terra.
Os gases são fundamentais para manter a temperatura do planeta acima de zero. Sem eles, os termômetros marcariam em média -18ºC. O aumento descontrolado da concentração desses gases, no entanto, retém mais raios solares e a Terra fica cada vez mais aquecida.
2005 foi o ano mais quente de que se tem notícia. Desde a Revolução Industrial, a temperatura do planeta subiu 0,8ºC.

Veja o vídeo em:http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM615522-7823-AQUECIMENTO+GLOBAL+AMEACA+AS+GELEIRAS+DA+PATAGONIA,00.html

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